terça-feira, 10 de setembro de 2013

The Tall T (1957) de Budd Boetticher


"The Tall T" é um western justíssimo, magro e elegante como o seu protagonista - e todos os melhores filmes do seu realizador -, sobre o despertar da potência feminina de uma mulher entre homens, ora selvagens e implacáveis (o grupo de assassinos que a sequestra), ora cobardes e interesseiros (de que o seu marido é o espécime mais grosseiro). Claro que para que Doretta (Maureen O'Sullivan) se dê a mostrar como a mulher que é será precisa a companhia do homem intrépido, justo e compreensivo interpretado por Randolph Scott - presença óbvia ou não seria este um western de Boetticher, o realizador que deu expressão e dimensão à carreira desse actor que no final dos anos 50 já estava longe do pico da sua vitalidade física. Trata-se, portanto, de um casal menos glamoroso do que é habitual num filme de Hollywood: um homem cuja idade começa a pesar - ele perde uma aposta com um amigo, que pôs à prova a sua frescura física - e uma mulher que está em risco de nunca ter sido nova - e a sua feminilidade adormecida, retraída, reside tragicamente nessa constatação.

Ele é um cinquentão solitário, um loner que "cavalga sozinho" (alone, lonesome, tudo sinónimos boetticherianos). Ela é uma quarentona, filha de um milionário que lhe deu riqueza material em vez de amor paterno. Ele descobre nela aquilo que ela não sabia ter: as propriedades femininas que fazem um homem agir. Boetticher narra, sinuosamente, a história dessa acção desde o princípio: primeiro, a personagem de Randolph Scott tenta dominar um touro (a tal aposta que irá perder... até porque a idade não perdoa), depois o tempo transcorre... até que Scott agarra Doretta pelo braço e lhe diz "You don't think anything of yourself, how can you expect anyone to? (...) Sometimes you have to walk up and take what you want!".

O beijo que se segue, um dos mais violentos do cinema clássico - ia escrever "que o cinema clássico nos deu" -, é uma lição vingativa - a única intensamente vingativa deste filme - contra esta mulher que negou a si mesma o tesouro mais precioso: a sua feminilidade. A partir daqui, rodeada por homens num mundo de homens, nasce uma flor no deserto. Boetticher traça, de novo com uma simplicidade de mestre, esta metamorfose de uma desvalorizada mulher rica (isto é, que apenas e só simboliza a sua riqueza) numa mulher valiosamente feminina (a riqueza que o herói desperta e que lhe dá força para matar os vilões). Masculina alquimia.

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