segunda-feira, 22 de abril de 2013

Sinapupunan (2012) de Brillante Mendoza


Brillante Mendoza tinha feito da maternidade e das "barrigas de aluguer" a matéria para o seu melhor filme, o pouco visto - mas ainda assim dado a ver ao público português graças à Zero em Comportamento e à retrospectiva Brillante Mendoza que organizou há uns anos - "Foster Child". Esperava deste "Thy Womb" uma variante desse filme, eventualmente pondo o acento tónico no "debate religioso e moral" e menos na questão social e económica. Em "Foster Child", tínhamos uma transacção de um filho entre uma mãe pobre e uma família americana abastada, em "Thy Womb", temos uma mãe pobre que não pode ter filhos e que, por amor ao marido e por desejo (e missão) de prosseguir com a sua linhagem familiar, inicia uma busca (verdadeiro casting) pela mulher que esteja disposta a dar um filho. A sua acção não é provocada por uma necessidade económica, mas por um desejo profundo de ter filhos e de "dar seguimento" ao legado familiar.

A relação entre estes dois títulos fica-se, contudo, no papel, porque formalmente Mendoza está aqui quase irreconhecível. Não que tenha mudado o modo de pegar na câmara, nomeadamente a sua vibrante aproximação aos corpos. O cenário natural sempre-sincrético das Filipinas também não é minimamente alheio a este "Thy Womb" - sentimos que viajamos aqui pela mesma "waterland" de "Lola", por exemplo. Apesar de tudo isto, o ritmo da acção é demasiado lento e mastigado, a narração emperra constantemente em situações derivativas, desliga-se demasiadas vezes das suas personagens, ao ponto de perdermos - em certos momentos - o contacto com as suas existências e o tal "debate interno" à volta da sua senda. A linearidade narrativa, que propiciava a imersão do espectador nas histórias e viagens dos seus ou que são os seus filmes, esboroa-se ao ponto de a certa altura parecer que é o próprio Mendoza a perder o interesse pelo seu filme. Tudo isto  leva a uma declarada falta de auto-esclarecimento a delinear a rota dramática que facilmente detectamos nos seus melhores filmes, como o referido "Foster Child" e "Kinatay". Aos meus olhos, estamos, enfim, na presença de um filme falhado de um realizador que talvez tenha ascendido demasiado alto no panorama do cinema internacional.

("Thy Womb" foi mostrado hoje, dia 21, na secção Observatório. Volta a passar dia 28 de Abril, próximo domingo, às 17h00, no Cinema City Classic Alvalade. Não recomendo, sobretudo se ainda não conhece o lado mais inspirado do realizador filipino.)

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