sábado, 20 de abril de 2013

Rocker (2013) de Marian Crisan


"Rocker" é um "filme de personagem". Digo-o no singular de propósito, tal como o próprio título singulariza esta história vivida "a dois", sobre um pai que se projecta no filho e um filho que se projecta no pai. Rockers? Não, "Rocker", no singular, objecto orgulhosamente "filho do pai". Afinal, é ele que alimenta o sonho e subsidia o estilo de vida do seu rebento, um newborn rocker feito à sua imagem, logo, também com o seu quê de old school. Como tal, a sua inspiração tem de vir do álcool, do fumo e... da heroína. Não sabemos ao certo como é que este pai e este filho foram "arranjar" esta situação, na realidade, quase caímos de pára-quedas para constatar que algo aparentemente muito destrutivo junta aqueles dois na senda do mesmo sonho. Não há tons trágicos, nem nenhum precipício dardenniano que vá fazendo rolar as personagens para o abismo. Não, neste "Rocker", estamos condenados a acompanhar os pequenos rituais diários deste pai como se fossem um "dado" mais ou menos imutável - o filme passa e, apesar da dureza de certas cenas, quase não damos conta dele. O eterno rocker limita-se a pedir a Deus que o vício pare, mas poucas serão as medidas que toma para que algo mude. O pai tal como o filho está focado no seu objectivo e aceitará tudo ou quase tudo para o levar avante. Primeiro, um concerto em Bucareste e, depois, logo se vê.

Se não sabemos bem por que esta personagem chegou ao ponto em que chegou, a câmara de Marian Crisan dá-nos a ver o "como": como sobrevive este pai à vida que leva? É comovente a forma como acabamos por descobrir um certo "equilíbrio" nas acções deste homem. Descobrimos, por exemplo, como a sua decisão de se tornar no principal dealer do filho é uma maneira de o proteger e, logo, uma demonstração de amor. Aliás, este é um pai rocker afectuoso, Big Daddy ou "altruísta de merda", como lhe chama a certa altura o filho, homem solitário que vai doseando - e "dose" é a palavra certa - as frustrações da vida com pequenos momentos de ternura vividos na companhia da sua namorada, mãe solteira com quem alimenta uma vida "paralela" que dificilmente terá grande futuro, mas que o mantém longe da degradação das drogas ou do êxtase desgovernado (mas ainda muito excitante) do rock. Também encontra refúgio na música, no futuro que vê no seu filho e na banda que lidera, "Os Iguanas" - sem um pingo de sentimentalismo, aliás, como digo, nunca o filme nos leva ao passado, este pai também se revê no filho. Companheiro de viagens, seu fã número um, de uma maneira estranha - quase perversa - temos aqui, na figura do pai - raras vezes é assim -, um exemplo de amor incondicional. Aliás, de um certo modo, eis o caso singular de um pai exemplarmente não exemplar. É a explorar esta contradição que este filme de curta ambição constrói, à boa maneira do cinema romeno, uma personagem e um minimamente envolvente microcosmo sentimental.

("Rocker", que passou hoje dentro da secção Cinema Emergente, dia 19, no Cinema City Classic Alvalade, volta a ocupar o mesmo cinema, no próximo dia 21, um domingo, às 19h, e dia 27, um sábado, às 14h30. Não é um Cristian Mungiu, um Radu Jude ou um Cristi "Sr. Lazarescu" Puiu, mas vale o preço do bilhete.)

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