quarta-feira, 24 de abril de 2013

Leviathan (2012) de Lucien Castaing-Taylor e Véréna Paravel


"Leviathan" não é um documentário. Também não é um ensaio audio/visual ou um filme avant-garde. Não, o próprio realizador, Lucien Castaing-Taylor, confirmou (no debate que se seguiu à sessão) esta impressão que me ficou depois de cerca de 80 minutos onde somos pescadores, peixes, gaivotas... Onde somos encostados à pele humana tão de perto que "o humano" se torna indistinguível do "animal", onde nos aproximamos tanto de tantos corpos - e olhos! - de peixes moribundos que acabamos por nos questionar sobre o que estes sentem - e vêem! "Leviathan" é um filme de terror e não na feição "arty", conceptual, "european". Não, é um filme de terror de "mão pesada", o que quer dizer que poderá não ser exactamente o "'Texas Chainsaw Massacre' dos peixes" que quer que ele seja, mas um "'Texas Chainsaw Massacre' dos peixes" brutal e state of the art, mais próximo até do remake produzido por Michael Bay que do original de Hooper.

Eis, então, uma experiência mais que um filme, um roller coaster quase hollywoodiano apropriadamente intitulado "Leviatã", mas onde a brutalidade não está apenas num monstro só (de facto, não há monstro nenhum...). A brutalidade está, na realidade, em toda a parte: não só na maneira como os peixes são decepados no barco pelos humanos, mas na própria forma como a Natureza - essa puta infernal - se manifesta à volta e se vai oferecendo à barbárie e ao caos. Filmado sempre à noite, consumido pelos seus movimentos atordoantes pelo mar e pelos céus, este documentário que não é documentário nenhum parece triturar em 80 minutos a versão "primeiro prato" de "Meat" de Wiseman com o horror de Ingrid Bergman quando assiste à violência dos pescadores de "Stromboli" com os rodopios da câmara demiúrgica de um "Gaspar Noé underwater" com ainda um Peter B. Hutton (e o seu "Images of Asian Music") em modo sujo, animal e heavy metal.

As "visões" de facalhões afiados que servem para "preparar" o pescado, os sons estridentes vindos do porão (como se fossem gritos lancinantes), as redes metalizadas que parecem fazer parte de um filme "sado-maso" ou de um snuff movie, os movimentos bruscos e automáticos de "homens sem rosto" que chutam restos de peixe para o mar... tudo parece saído de um horror show da pesada, em vez de um documentário sobre pesca. Já em "Sweetgrass", Castaing-Taylor e Véréna Paravel tinham filmado a travessia de dois pastores e do seu "mar de ovelhas" por montanhas repletas de lobos e ursos famintos. Tínhamos aqui em preparação o verdadeiro filme de terror que se concretiza em "Leviathan", projecção que não quererá perder durante este IndieLisboa. Até porque, fora de sala, a experiência deste filme arrisca-se a ficar reduzida a uma curiosidade com pouco interesse.

("Leviathan" passou hoje, dia 24, dentro da competição internacional. Volta a ser mostrado no dia 26, às 21h45, no Cinema City Classic Alvalade. A não perder, sobretudo se for vegetariano/vegetariana e não enjoar no mar.)

Sem comentários:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...