sexta-feira, 4 de maio de 2012

L'enfant d'en haut (2012) de Ursula Meier


"L'enfant d'en haut", com o título inglês "sister", é uma história de amor. Foi isso que retive da apresentação da realizadora suíça Ursula Meier, antes de se apagarem as luzes e começar a projecção. De facto, agora visto este que é o seu filme mais recente, premiado em Berlim com o Urso de Prata, fica bem claro que estamos na presença de uma história de amor, mas um amor que se exprime sempre numa ideia de distância e abandono.

As personagens principais são um rapaz e a sua "sister" (prefiro aqui socorrer-me da acesa ironia do título inglês...). Ele ganha o pão (= a massa e o papel higiénico, como diz, a certa altura) roubando material para esquiar e vendendo-o por tuta e meia, enquanto ela gasta o dinheiro em bebedeiras ou em saídas extemporâneos com homens estranhos. A premissa é esta, simples, tal como já era a de "Home", mas é com base nela que Meier vai subtilmente captando algo mais, a tal história de amor entre duas pessoas sós, deixadas ao abandono, mas que, por serem assim, acabam por se tocar na mais profunda e íntima das sintonias. Não importa se a estrondosamente bela Louise (interpretada por Léa Seydoux, que se lembrarão de "Midnight in Paris" ou "Inglourious Basterds") é, de facto, a irmã do expedito Simon (Kecey Kelin, que era Julien em "Home" e que, por uns minutos, também passa por Julien aqui...). O que importa é que aquele rapaz-adulto e aquela mulher-criança, mesmo sem horizontes de futuro, estão (umbilicalmente...) ligados.

Esta pequena história, pontualmente, comovente, é contada sem sobressaltos, num ritmo lento, pela câmara de Meier, num registo de realismo sociológico à Dardenne (não o de "Rosetta", mas mais o de "Le gamin au vélo"), talvez algo excessivamente "apagado" se o quisermos comparar a alguns momentos da sua primeira longa, filmada para a TV suíça, "Des épaules solides", mas também sem as inconsistência deste filme. Não que a consistência, solidez amadurecida no "filmar" e no "contar", corra sempre a favor do grande cinema. No caso, parece que de tanto se "querer apagada", a câmara de Meier torna-se previsível na sua acção e demasiado confortável com o que filma. E o que filma também, gradualmente, se vai tornando mais sinal de repetição desnecessária do que de uma (muito pretendida?) delicadeza dramática - estilo "Dardenne chic".

Não estou certo que "L'enfant d'en haut" consiga escapar à mesma crítica que dirijo a um "Home": storytelling lento, que gira à volta de si, repisando as mesmas ideias fundamentais várias vezes, e que, a meio, começa a amolecer o filme e, por arrasto, o espectador, mesmo aquele que simpatize com as personagens e o seu drama sentimental. Apesar dos bons sentimentos, de interpretações notáveis, alguns cameos assaz surpreendentes (não tanto o de Stévenin, mas mais o da desaparecida em combate Gillian Anderson), este filme está mais longe do que esperava do nível (e arrojo) dos primeiros filmes de Meier (as suas surpreendentes primeiras curta e longa). Uma pequena desilusão.

(Este filme foi exibido hoje no IndieLisboa. Será distribuído comercialmente pela MIDAS Filmes, no mês de Outubro. Tente vê-lo, mas sem esperar muito.)

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