terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Regarding Harry (1991) de Mike Nichols


Este filme, que para muitos será um banalíssimo "caso da vida" para digerir domingo à noite, suscitou-me uma reflexão em torno daqueles que, durante os anos 70, 80 e 90, foram os principais operários do melodrama ou do "drama adulto" mainstream norte-americano. Mike Nichols, James L. Brooks e Rob Reiner - e, se calhar, ainda Robert Benton - são alguns dos nomes mais notáveis a nível de popularidade e, nalguns casos, consagração da crítica.

Muitos dos seus filmes parecem hoje datados - veja-se como Rosenbaum se mostra embaraçado, em post recente no seu blogue, com as 4 estrelas (pontuação máxima) que atribuiu a "As Good as it Gets" de L. Brooks. Datados, dizia, talvez por apostarem nas fórmulas clássicas antigas de Hollywood, variando entre a comédia light para toda a família ("Stand By Me" ou "When Harry Met Sally" de Rob Reiner) e o tearjerker pós-Sirk ("Tearms of Endearment" de L. Brooks). Vendo os filmes destes realizadores hoje, num tempo muito diferente, é curioso verifcar como todos eles preservam uma espécie de naivité tão anacrónica quanto desconcertante.

Todos estes filmes, mais ou menos comoventes, mais ou menos nostálgicos, revelam uma visão risonha da vida, uma inclinação para narrativas simples centradas em personagens de coração grande que, ao longo do filme, são testadas nas suas acções. Não há nada de verdadeiramente incómodo, não há statement político, só há emoções simples tratadas com maior ou menor profundidade. "Regarding Harry" é exemplo disso. Diria que podia ser descrito como um "Bigger Than Life" ao contrário - um pai de família insensível ganha "coração" depois de um incidente na sua vida, o oposto do que acontece no clássico de Nick Ray - ou um Capra hardcore - a co-habitação do espectador com a face menos "heartful" de Harry constitui uma percentagem ínfima do tempo total de filme.

Um cinema cómodo, sem "papelões" ou quaisquer ideias de cinema significativas, que manipula sempre no sentido de uma moral benigna. Está datado talvez porque não o encontramos tão facilmente hoje em dia, em tempos de ruído CGI, explosões e super-heróis ou muito bricolage pseudo-filosófico.

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