sábado, 22 de fevereiro de 2014

The Sacrament com novo poster e já com trailer


Apesar de provocar experimentações interessantes sobre a linguagem do medium cinematográfico, o found footage é um género fechado sobre si mesmo, que parece promover mais repetição inconsequente do que avanços substantivos da sua própria gramática. Quando se anuncia mais um destes títulos filmados com câmara nervosa, explorando a aleatoriedade (simulada) das imagens e promovendo a indagação voyeur, de reality show, da matéria que tem à frente, não ficamos propriamente em pulgas. Apesar do meu guilty pleasure por filmes deste género, tenho de assumir a predominância de objectos inúteis neste domínio.

Posto isto, repetindo algo que já escrevi aqui, de momento "The Sacrament" activa-me algumas resistências. Pelo que vejo do seu trailer, este é um tímido found footage film ao pé de outro projecto com a mão de Ti West, "V/H/S". Não sei o que é pior: assumir o género ou escondê-lo como coisa embaraçosa, mas… narrativamente necessária. Para se infiltrar no core de uma seita religiosa, West torna as suas personagens repórteres de televisão. Há uma confusão aparente entre "o directo" do horror e ir directo ao horror. Como sabemos, até pelo que a televisão nos mostra, ou melhor, até pela forma como a televisão nos mostra diariamente o horror, o "directo" não é condição sine qua non de maior contacto com uma determinada verdade. Tenho receio, pelo que vejo do trailer de "The Sacrament", que West tenha caído neste raciocínio básico e algo preguiçoso de associar "reportagem", found footage e verdade como traduções imediatas e necessárias entre si.

Olhando para "The House of the Devil" e "The Innkeepers", fica claro que a filiação de West é clássica e assim deve permanecer. Esta é a principal fonte de desconfiança que me provoca o trailer de "The Sacrament". Fora isso, vemos, a subirem à superfície, todos os elementos - os melhores elementos - do seu cinema: esta ideia de invadir um espaço ou uma comunidade tomada por actividades ocultas, senão mesmo paranormais, cola perfeitamente com as obras anteriores do realizador. O destaque dado ao "mestre" desta congregação ou seita poderá aproximar West de uma espécie de versão horrífica, ou ainda mais horrífica, de "There Will Be Blood" e "The Master", dois filmes de Paul Th. Anderson onde a religião funciona como sistema vicioso  não de revelação mas de aniquilação dos espíritos. Esperemos que, por esta via, West prove ser "mestre do seu mundo" e não traia a minha crença no brilhantismo que lhe é inato.

Um certo olhar de cão triste e débil (quase punk)

"Journal d'un curé de campagne" (1951) de Robert Bresson

"Edward Scissorhands" (1990) de Tim Burton

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Ligação directa à pala de Walsh (XVII)



Foi, fundamentalmente, um mês de alta criatividade. A rubrica Estado da Arte nasceu, com o intuito de pôr a dançar os movimentos das imagens (da TV, do Cinema, da Internet, etc.). Pus aqui em destaque dois dos meus pares favoritos, mas pode ir visitando as nossas criações - minhas e do Ricardo Vieira Lisboa - a partir daqui. A minha colaboração ao longo do mês resumiu-se ainda à habitual crónica Civic TV, cujo tema foi o cinema de Blake Edwards. Entrei nas terceiras Conversas à Pala, na presença do meu colega Carlos Natálio e do convidado Vasco Baptista Marques. O objecto da conversa foi o ano cinematográfico que passou e o que se projecta para o novo ano.

Escrevi com a Sabrina D. Marques um texto de homenagem a Miklós Jancsó. Em mês de importantes desaparecimentos - onde se contou ainda o do documentarista brasileiro Eduardo Coutinho, paz à sua alma -, deixei ainda umas palavras sobre uma das personagens mais marcantes de Philip Seymour Hoffman. O texto conta com participações de cada um dos membros do grupo fundador do À pala de Walsh.

A Sopa de Planos do mês teve como tema "sombras". Fui levado pela minha memória recente e escolhi "Elvis", o pouco visto biopic de John Carpenter. As minhas palavras podem ser lidas aqui.

Para o que resta de Fevereiro, mês editado por João Lameira, reservo a expectativa de conseguir publicar a entrevista que fiz ao excelente cineasta norte-americano Billy Woodberry, durante o programa de Harvard na Gulbenkian. Deixo ainda o convite a todos os leitores do CINEdrio: apareçam, dia 14 de Fevereiro (sexta-feira), às 19h30, livraria da Cinemateca (Babel), nas quartas Conversas à Pala, com João Lameira, Ricardo Vieira Lisboa e o convidado especialíssimo José Fonseca e Costa. O principal pretexto para este encontro é o lançamento recente no nosso mercado DVD de três dos filmes mais celebrados do veterano cineasta português: "Kilas, o Mau da Fita", "Sem Sombra de Pecado" e "Balada da Praia dos Cães". Imperdível.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

O eterno toque no leito da morte

Foto de Sentimental Journey, Winter Journey (1971-1991) de Nobuyoshi Araki

"Le passé" (2013) de Asghar Farhadi

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