sábado, 11 de agosto de 2012

Tomado pelo boneco

"The Great Gabbo" (1929) de James Cruze

"The Beaver (2011) de Jodie Foster

(Era na Film Comment que lia há pouco tempo qualquer coisa assim sobre "Ted": "pelo menos é melhor que "The Beaver"". A crítica norte-americana, mesmo a mais "selecta", cede muito fácil e condescendentemente à generalizada infantilização da sociedade norte-americana quando decide tomar partido, nem que indirectamente, pela consagração moral do adulto-que-não-cresce, isto é, pela vitimização lacrimejante do adulto-que-não-sabe-ser-adulto. "Ted" é isso e só serve para isso - depois espantem-se que andem aí uns estudantes de doutoramento de "quadro de honra" que acham que são e por isso se comportam como o Joker... "The Beaver" é um filme, ao invés, sobre um adulto que para voltar a ser adulto tem de "regressar" à criança que está lá atrás, bem enterrada. O tom é sério, gravoso e a condição do protagonista tratada como tal. Não há desculpas, numa sociedade sã, para que um adulto recuse a responsabilidade de "ser adulto".)

2 comentários:

Carlos Natálio disse...

Não vi nenhum dos filmes mas a mim parece-me que a questão da infantilização é menos uma questão de condescendência e mais uma inevitabilidade. Quando cresces e tudo está feito, a andar, tudo é decidido sem ti e além disso tens recursos para sobreviver, não há espanto que cresças mantendo a dependência da criança. Além disso, a valorização da ingenuidade infantil parece ser decisiva para muitos prolongarem esse traço como algo cool.

Luís Mendonça disse...

Mas aqui a questão nem é tanto de "ingenuidade infantil" ou do "espírito de criança" ou do "homem-criança" de Baudelaire, não, aqui o que se passa é o triunfo do adulto que indolentemente não quer crescer.

Dito de outra maneira, se no filme com o Stroheim e no filme da Jodie Foster, o protagonista "tem um problema", no filme do McFarlane, quem tem o problema é ELA, a companheira do protagonista "infantilizado". Esta inversão é, quanto a mim, uma tentativa "ideológica" de normalizar, até de VITIMIZAR!, os adultos "feitos Joker" deste mundo.

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